sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Baryshnikov nu...

Como, já há algum tempo atrás, coloquei aqui um “portrait” de Makarova chamado “Makarova nua”, continuo essa “fórmula” com o grande, queridíssimo Mikhail Baryshnikov, ídolo de todos os bailarinos da minha geração!


Misha (como ele é também carinhosamente chamado por toda esta geração) sempre teve uma grande identificação com o papel de Albrecht, em “Giselle”.
Sua interpretação porém mudou, amadureceu com o passar dos anos… Aquela coisa maravilhosa do contínuo movimento, da incessante mudança na arte…

Aquilo que a mantém viva.

E não “petrificada”.

Em sua juventude seu “Albrecht” pendia mais para um lado sonhador, com uma personalidade mais naïve que não viu as consequencias do que estava fazendo com Giselle...
Já na sua maturidade artística seu “Albrecht transformou-se num personagem que levava dentro de si uma pequena dose de cinismo, um “playboy” que, com seu oportunismo e egoísmo, (talvez) não viu as consequencias do que estava fazendo (com a pura Giselle). Estou, óbviamente, a falar do primeiro Ato...

Interpretações minhas talvez…

Mas para quem não sabe ao que me refiro ou não conhece o “enredo” de Giselle, recomendo http://en.wikipedia.org/wiki/Giselle, já que ao contrário de muitos Blogs não "conto", não descrevo aqui enredos de filmes, librettos de óperas ou estórias de ballets... gosto só de tertuliar sobre eles...


O filme “Dancers” (ou às vezes chamado “Giselle”) de 1987 não é uma obra-prima em termos cinematográficos, muito pelo contrário: concebido também por Herbert Ross e sua esposa (ex-bailarina do American Ballet Theatre) Nora Kaye, “Dancers” tentou apoiar-se na bem sucedida fórmula de “The turning point” (Momento de Decisão, 1977) também idealizado por Ross e Kaye e não funcionou. Na realidade falhou completamente e foi um grande fracasso.

Senão fosse por toda uma geração de bailarinos “fiéis” aos seus ídolos (à qual me incluo), acho até provável que este filme não teria “dado o salto” para a digitalização (e se transformado em VHS/DVD). Para esta geração de bailarinos, a importancia de ver este “outro” Albrecht, mais amadurecido, de Misha é muito mais do que interessante, é quase essencial.
Nesta época ele já se encontrava num "pulo" em termos de carreira na dança. Bem mais magro, bem mais vulnerável do que nos anos de seu apogeu técnico (num dos quais “The turning point” foi filmado) ele aqui apresenta muita, muita sensibilidade… Ele literalmente se “despe” em frente da camera e nos mostra uma faceta – que é as vezes interpretada como a sua verdadeira – muito interessante para este personagem.

Baryshnikov nu.


Sua Giselle aqui é Alessandra Ferri (os “pés” mais lindos da história do ballet) e os dois criam uma “química” maravilhosa.
Alessandra, que já se retirou, era para mim a única bailarina capaz de bailar “Marguerite” em “La Dame aux Camelias” de John Neumeier, depois da fantástica Marcia Haydée – e qual foi minha surpresa ao saber que ela a interpretaria… Voei para Milão para vê-la ao lado de Roberto Bolle. Sua Marguerite, mulher "mais madura”, ao lado de um jovenzíssimo Armand de Bolle, foi suprema. Pergunto-me se um dia bailarinos como o lindíssimo Bolle terão esta perspicácia, como Misha teve, de “amadurecer” inteligentemente seus papéis… seus personagens… para ve-los, enfocá-los de um outro lado do "prisma".


Ferri sempre deu vida à uma Giselle muito singular… em alguns momentos minha respiração para.
Ela me fascina.
A capacidade, também em termos de estilo (históricamente vistos, Ballet romantico), que Ferri aqui demonstra é uma coisa única, rica... uma bailarina italiana,
uma bailarina dramática ( e "lírica" termo sempre dirigido a um soprano porém esta bailarina o merece), ela teve uma carreira única… em Milão, no American Ballet Theatre, no mundo… e, depois de muitos anos de carreira, despediu-se graciosamente dos palcos. Um acontecimento...
Gosto quando vejo uma carreira maravilhosa tornar-se numa longa carreira, cheia de harmonia e elegancia… jamais esquecerei-a em “Romeu e Julieta” e em “A streetcar named desire” (Um bonde chamado desejo), ballet inspirado na peça de Tenessee Williams, no qual ela deu vida à vulnerabilíssima, triste e doente Blanche Dubois


Sua despedida dos palcos foi emocionante (voces a encontram fácilmente em “Youtube”) e inolvidável… Um daqueles tributos à grandes artistas que foram sempre amadas – também por seus « colegas » de trabalho… Penso no que minha vó dizia: “Sempre colhemos o que plantamos”. Linda Alessandra Ferri!

Mas voltando a “Dancers”… visto de certa forma como uma “provável” sequencia de “The turning point” (filme que aliás divide com “A cor púrpura” de Steven Spielberg a “honra” de ter sido nominado para 11 Oscars – sem ter ganhado um sequer… ), um dos poucos fatos interessantes deste filme é a continuação que é dada ao personagem de Lesley Browne (bailarina cuja carreira com o ABT foi amaldiçoada pelo sucesso de “Momento de decisão”), que havia se apaixonado pelo de Baryshnikov… aqui, ela é uma mulher amarga, uma das “ex” dele… e ele a coloca como Myrtha – a líder das “Willis”, dos espíritos das “virgens” – e ela dá uma incrível performance, bem forte por sinal, dura, cheia de ódio aos homens… bem “retrato de uma mulher mal-amada” e frustrada… mais um "arquétipo" tratado dentro de Giselle...

Aqui os dois em “Dom Quixote” em “The turning point” dez anos antes de “Dancers”… Penso como teria sido a carreira de Browne se houvesse escapado "The turning point" e o que teria acontecido à Gelsey Kirkland se o tivesse aceitado...


Assistam alguns trechos do filme, do ballet…
Ah, para quem ainda não sabe: Giselle é o meu ballet preferido…


E aqui um trecho de um Blog chamado www.adancersprism.com, com maravilhosas notícias para os amantes do Ballet:

Legendary ballet dancer, Mikhail Baryshnikov, has donated 35 boxes containing his personal archives — video recordings, photos, documents and letters — to the New York Public Library for the Performing Arts. The incredible archives include some rare gems, such as videos where Baryshnikov can be seen practicing in Riga, Latvia (where he was born) as a young boy of 11 or 12 , doing exercises at the Vaganova School and working with such greats as Balanchine, Cunningham, Robbins and Graham. There is so much material that cataloging and digitizing is estimated to take at least three years, at which point it should be searchable by year, performance, dancer or choreographer. Baryshnikov has said that this archive represents his whole life. Considering that the 63-year-old is still working as a dancer, actor and founder of the Baryshnikov Arts Center in Manhattan, we are certain there is much more to come in his life.

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